Pedonalização do centro da cidade de Guimarães sem consenso no Executivo

O anunciado projecto de pedonalização no centro da Cidade, que prevê a realização de obras na Alameda de São Dâmaso, Largo do Toural e Rua de Santo António, levou o vereador do PSD, Hugo Ribeiro, a considerar que os comerciantes "estão descontentes com os cortes de trânsito" e "têm de ser ouvidos".

Numa intervenção feita na reunião do Executivo, realizada no passado dia 15, o representante social-democrata perspectivou que o comércio tradicional "não sobreviverá se as obras criarem um estaleiro por tempo indeterminado", argumentando com os dados da auscultação feita pela Associação de Comércio Tradicional de Guimarães, num abaixo assinado em que a maioria dos subscritores mostraram-se contra a adopção dessa medida.

Na reacção, o Presidente da Câmara afirmou que a actividade comercial em Guimarães "não se reduz a três ou quatro ruas" e que "nem todos os empresários estão contra a limitação da inovação comercial". "Tenho de ter uma visão para a Cidade. Os comerciantes não são o todo. As políticas públicas são para o todo, na transformação do território e da cidade", apontou, fazendo questão de sublinhar que já ouviu os comerciantes e nem todos estão contra a "crescente pedonalização".

"Temos de ter políticas que devolvam a Cidade às pessoas, nas quais se incluem os comerciantes", insistiu Domingos Bragança, vincando: "o carro não compra". "O projecto que está a ser elaborado, além de colocar a cota do pavimento da faixa de rodagem ao mesmo nível do passeio, permitirá fazer até mais do que colocar uma cobertura da Rua de Santo António. Há um miolo interior no quarteirão que está a suscitar interesse de investidores privados e poderá corresponder a mais oferta de lugares de estacionamento", referiu, garantindo que não desistirá de implementar o projecto que está a ser elaborado na Divisão do Centro Histórico.

"Acrescentou-se muito estacionamento à superfície na Urbanização Cães de Pedra e já pedi à Polícia Municipal para ser exigente na fiscalização do aparcamento irregular na Avenida D. Afonso Henriques porque o comportamento dos automobilistas chegava a impedir aos autocarros a recolha de passageiros nos locais de paragem destinados aos transportes públicos", disse na reunião.
"Eu já ouvi os comerciantes e quem os representa. A nossa prioridade é privilegiar o peão. Depois da obra feita, se a intenção não corresponder à expectativa que é de favorecer a circulação pedonal, nada impedirá que o espaço possa ser utilizado por veículos. Quem circula de automóvel percebe que a prioridade é do peão quando anda à mesma cota do passeio", considerou, reconhecendo que "as obras são sempre perturbadoras" e naquele espaço obrigam à validação de diversas entidades por abrangerem uma área envolvente à zona classificada pela UNESCO. "O projecto é para fazer! Não há nada a retroceder", frisou.

Aliás, no decurso da análise, Domingos Bragança aproveitou para partilhar com a vereação que a recente classificação do posto de abastecimento de combustível da Rodovia de Covas como monumento de interesse público criou um perímetro de protecção, que "já está a criar problemas numa zona de urbanização". Fez ainda questão de destacar que as obras de requalificação da torre da alfândega deverão ficar concluídas em meados do próximo ano. "É assim que se constrói cidade e estamos aqui para definir o que é estratégico para o território", anotou o Edil.

O vereador do PSD, Hugo Ribeiro, realçou que a sua intervenção teve o intuito de "defender todos os comerciantes e não uma associação''. "São famílias, pequenas empresas que fazem parte do património colectivo". "Não é justo transformar a cidade para o acolhimento de negócios vocacionados para os turistas". 

O Presidente da Câmara respondeu, repetindo: "os comerciantes não são o todo, são uma parte importante".

Texto publicado na edição do jornal O Comércio de Guimarães, 21-12-2022.

Marcações: reuniao do executivo vimaranense, pedonalização, comércio em Guimarães

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