Vídeo: Restauro dos azulejos avança na Capela de Nossa Senhora da Conceição

 

Os magníficos azulejos decorativos existentes no interior da capela de Nossa Senhora da Conceição, em Azurém, já estão a ser restaurados. É mais uma etapa no longo processo de reabilitação e conservação daquele «tesouro» do património vimaranense, liderado pela paróquia de Nossa Senhora da Conceição.

Durante os próximos oito meses, Rebeca Reis, Leonor Bastos, Angélica Vedana e Ana Maria Miranda vão trabalhar com a precisão necessária para desvendar mistérios e devolver o brilho da glória aos painéis de azulejos que foram cúmplices de tantas e tantas novenas dos estudantes de Guimarães e pedidos de milhares de romeiros que ali acorrem no dia 8 de Dezembro.

Quem entra na igreja fica rendido aos valores materiais e simbólicos que abriga. A coordenadora da equipa de restauro Rebeca Reis não foi excepção. "Quando se abriu a porta senti um carinho muito grande. Meu Deus! Que capela mais linda!", disse no tom doce do português com sotaque do Brasil. "Mas logo, percebi o desafio só de olhar para os painéis, porque será difícil preencher o puzzle e a reintegração desses azulejos que estão quebrados, espalhados, não se sabe se todas as partes que constituem o azulejo existem ou se vão ser reintegradas", acrescentou.

"A cada dia encontramos novas dificuldades, com mais danos que acontecem até pelas condições do meio, como salinização, a colonização biológica e outras questões que vão ser tratadas", referiu a responsável, admitindo que pelo tamanho da Capela "não esperava que tivesse uma riqueza tão grande de elementos decorativos. É uma Capela que guarda um tesouro muito rico!», sentenciou.

O diagnóstico é partilhado pela outra coordenadora do projecto que está a ser executado pela empresa Lainho - Conservação e Restauro. Leonor Bastos indicou que a principal prioridade da equipa foi a de "fazer um mapeamento integral, com um levantamento de todas as patologias, de todos os danos existentes, para posteriormente realizar uma lista de tarefas".

"Estamos a proceder à limpeza, para termos a certeza de que estamos a ver a unidade azulejar no seu todo. Nesta capela, vamos também planificar o puzzle das diferentes peças, porque o olhar não engana e os azulejos não estão devidamente unidos. Teremos também de trabalhar para ter a certeza de que os materiais são compatíveis, para evitar e mitigar problemas futuros", observou.

Questionada sobre a mensagem expressa nas diferentes representações, Leonor Bastos aponta também esse desafio. "Ainda há incertezas, estamos a tentar desvendar a mensagem que está associada ao conjunto. Obtivemos a informação de que possivelmente os painéis foram transladados de um outro local, não são originais aqui, e verifica-se a existência de dois momentos de oficinas. Temos uma oficina na nave e uma segunda na capela. São dois momentos distintos, os azulejos foram pintados por mãos distintas, daí que temos de tentar perceber realmente o que estava a ser retratado e até que ponto é que poderá ter sido alterado durante a eventual transladação", sustenta Leonor Bastos, ao referir-se ao templo que terá sido construído no século XVII e XVIII. A nave é revestida por um conjunto de azulejos que representam episódios do Velho Testamento, nomeadamente cenas do Cântico dos Cânticos. O inventário da Direcção-Geral do Património refere que a "sua autoria tem vindo a ser atribuída ao monogramista P.M.P., o pintor de azulejos de nome desconhecido, cuja obra se integra no intitulado «Ciclo dos Grandes Mestres», não tanto pela sua qualidade, mas principalmente pelo carácter decorativista, que tanto irá influenciar os pintores subsequentes. Estes azulejos relacionam-se com outros atribuíveis ao mesmo autor, existentes na cidade de Guimarães, nomeadamente, na Igreja das Capuchinhas e na igreja de São Dâmaso.

Conhecedora de muitos outros monumentos, a coordenadora anotou a exuberância da "justaposição dos azulejos com a talha" existente naquela capela. "Não é comum numa capela com estas dimensões encontrarmos esta justaposição", afirmou, garantindo que a equipa está a fazer um trabalho minucioso, quase cirúrgico, sendo agora a capela "um laboratório dinâmico de restauro, porque todas as obras são diferentes, todos os dias encontramos desafios".

"Para além da salinização, temos vários fragmentos azulejares escondidos, atrás de outros azulejos, espalhados pela parte do reboco, o que não é suposto, e inclusive fragmentos colocados paralelamente ao chão e que parecem argamassa. Num dos arcos, os azulejos estão por detrás do tecto que já foi recuperado", alertou, emocionada com o desafio.


Vandalismo praticado no
alpendre continua a preocupar

"A finalidade desta obra é devolver à Cidade um dos seus tesouros", assinala o pároco de Nossa Senhora da Conceição, sublinhando o anseio de abrir o templo à comunidade e integrá-lo no roteiro turístico de Guimarães. "O projecto foi faseado em três etapas; esta é o restauro do azulejo e a pintura mural, a segunda será a restante talha, porque o tecto da nave já está restaurado, e faltam os altares laterais e o altar-mor, assim como talha que reveste o órgão. O órgão será a terceira etapa que queremos concluir porque é uma peça muito valiosa da capela e só fará sentido a capela estar completamente aberta ao público quando ficar totalmente restaurada", destacou o padre Leonel Cunha.

Apesar do esforço financeiro exigido pela execução do projecto que tem contado com o apoio da Câmara de Guimarães, o Sacerdote mostra-se preocupado com o vandalismo nocturno que compromete a segurança da capela. "Ainda não conseguimos sanar este problema, sendo frequente a presença de pessoas no alpendre que não têm um comportamento de respeito com o património. Voltaram a tentar atear fogo à porta", indicou, reconhecendo a atenção da Junta de Freguesia de Azurém que reforçou a iluminação e a visibilidade da PSP que "tem feito rondas nocturnas para evitar que o vandalismo seja praticado".

"O meu receio é que isto possa vir a correr muito mal. A capela pode vir a sofrer o incêndio e não termos capacidade de actuar com a rapidez de evitar uma tragédia, num tesouro artístico que é de todos", insistiu, dizendo: "já não sabemos mais o que fazer. Fica o nosso apelo para que não usem indevidamente este espaço".

A recuperação já obrigou a um investimento na ordem dos 400 mil euros. Os encargos financeiros para a conclusão do projecto de restauro exigem agora 70 mil 700 euros para o restauro dos azulejos e da pintura mural, perspectivando-se já a necessidade de aplicar mais 90 mil para a conclusão da conservação da talha e 80 mil para o órgão de tubos... "É um espaço tão pequeno, mas é um trabalho cirúrgico, de precisão, especializado", justifica o sacerdote, ansioso por ver concluída a intervenção.

Marcações: Capela de Nossa Senhora da Conceição, restauro de azulejos, património vimaranense

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