Estratégia de captação de investimento e revisão do PDM em análise na última reunião do Executivo vimaranense

Seis meses após o início do actual mandato, a Oposição reiterou críticas à gestão socialista relacionadas com a ausência de uma estratégia capaz de atrair investimento e a instalação de grandes empresas em Guimarães.
Numa intervenção no período antes da ordem do dia, na reunião do executivo realizada no dia 10, o Vereador do PSD, Bruno Fernandes, sustentou que "o desenvolvimento económico deveria ser um dos principais pilares da actuação do Município, porque fortalece o tecido económico e o tecido social, ao fixar população e captar novos residentes". "A gestão socialista não dá a prioridade que deveria dar à captação de investimento para a fixação de empresas internacionais e para o fortalecimento do tecido económico que já cá está", afirmou Bruno Fernandes, apontando a ausência de informações recentes sobre a actividade do Gabinete de Transição Económica, da evolução da Academia de Transição Digital, da acção do Consulado do Cazaquistão e do parque Industrial de Moreira de Cónegos.

"Vemos notícias sobre a saída de empresas do nosso Concelho, como a Garcia & Garcia, mas não vemos sobre a instalação de novas empresas. Não temos as melhores condições para acolher grandes propostas porque não temos parques industriais disponíveis e uma estratégia capaz de ser atractiva com uma Divisão de Desenvolvimento Económico com as malas prontas para correr a Europa e o Mundo", frisou. Bruno Fernandes fez questão de estabelecer uma comparação com Santo Tirso, "em que uma parceria do Município com os privados permitiu a criação do Parque da Ermida, com a instalação de 11 empresas, que investiram mais de 200 milhões de euros e criaram mais de 1.900 postos de trabalho". "Guimarães não pode deixar de criar estas condições para que as empresas tenham uma opção, está a perder tempo que não vai recuperar. Estamos a transformar-nos no concelho das superfícies comerciais. Não seria mais interessante investir nos parques industriais? O pelouro é seu", desafiou o Vereador do PSD, dirigindo ao Presidente da Câmara que assumiu as competências da Divisão de Desenvolvimento Económico.

"Guimarães é uma área sagrada para o que está e para o que não está".
Domingos Bragança, Presidente da Câmara

Na reacção, o Presidente da Câmara começou por assinalar que "Guimarães está entre os 10 concelhos mais exportadores do País" e "continua a ser um território muito industrial fazendo justiça ao seu legado". "Guimarães é muito atractivo. O crescimento do tecido económico está na ligação forte à ciência, com a actividade do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, da Universidade do Minho e da Universidade das Nações Unidas, com a instalação do Supercomputador, o Instituto Cidade de Guimarães, o que se projecta para a investigação nos novos materiais e sua aplicação industrial, os projectos de ensino que ficarão instalados na Fábrica do Arquinho, com a Escola para a Engenharia Aeroespacial e Ciência de Dados, a requalificação da Quinta do Costeado para a Escola-Hotel. Estamos a lançar sementes que darão frutos fortes e difusores para uma economia robusta, no futuro", respondeu Domingos Bragança, lembrando "o trabalho contínuo, de formiga, de envolvimento dos empresários nos projectos colaborativos para a transferência de conhecimento para as empresas". "O meu trabalho é menos de fotografias e mais de terreno", prosseguiu, advertindo: "não podemos convidar empresas e não termos parques para a instalação industrial".
O Autarca apontou a necessidade de encetar uma revisão do Plano Director Municipal (PDM), "para que as indústrias existentes possam ampliar as suas actividade e para isso têm de ter terrenos que o permitam e ter novos parques industriais, uma vez que os
existentes estão completos". "Recuso a alteração pontual do PDM, porque precisamos de uma revisão para fazer com que haja zonas programáveis para a localização industrial ou urbanizáveis", justificou, admitindo possíveis dificuldades: "porque as entidades que olham para Guimarães, olham de uma maneira diferente da que lançam para os concelhos vizinhos. Guimarães é uma área sagrada para o que está e para o que não está".
No final da reunião, Domingos Bragança indicou que está apontado um novo parque industrial para a zona sul do Concelho, abrangendo várias freguesias, assim como a "ampliação do parque industrial de Ponte, do Avepark e do parque de Selho São Lourenço/Penselo, com a ligação ao parque de São Torcato". "Só poderemos ampliar os parques industriais existentes e criar um novo se fizermos a revisão do PDM. O que estava a ser trabalhado era uma alteração relativamente pontual do PDM existente", insistiu, revelando que o Município está a trabalhar no sentido de que um novo PDM "defina quais são as áreas industriais e as suas localizações", num conceito que será objecto de uma sessão de discussão pública para o conhecimento dos empresários. "Não é suficiente passar terreno rural para terreno industrial, isso entra na especulação imobiliária e não se consegue... O novo instrumento do PDM permite definir enormes áreas que sejam programáveis para urbanização e localização industrial, continuando no PDM como rurais, mas que obrigam a planos de pormenor e a unidades operacionais de gestão e planeamento em que só com o compromisso dos diversos promotores, proprietários, com a Câmara Municipal, passamos para territórios industriais". "É esse trabalho que estamos a fazer, para a zona sul de Moreira de Cónegos que contempla uma área de cerca de 200 hectares e o alargamento considerável do parque de Ponte para que possamos dizer que temos 20 ou 30 hectares disponíveis para a localização de uma empresa. Sem isso, podemos
ficar com as melhores intenções, mas Guimarães depois não oferece essa disponibilidade".
O Presidente da Câmara deu conta dos entraves que têm sido colocados a uma empresa que pretende expandir a sua actividade, construindo novas instalações em terrenos situados na União de Freguesias de Conde e Gandarela. "A empresa precisa de cerca de 8 a 10 hectares. A Câmara aprovou, a Assembleia Municipal também aprovou a localização num terreno que está circundado por empreendimentos industriais e as instituições da tutela aprovaram na zona norte e na entidade nacional reprovaram", declarou, ao observar que "comparando com os concelhos vizinhos, não há problemas dessa dimensão, porque tudo o que propõem é aprovado". "Guimarães é património da humanidade, mas temos de ter território onde a localização industrial seja possível. E temos de ter habitação à volta da nossa indústria".
As considerações do Presidente da Câmara levaram o Vereador do PSD, no final da sessão, a sustentar que "o Município reconheceu o erro que cometeu e tem cometido em não acautelar em sede de PDM áreas de acolhimento empresarial capazes de permitir a instalação de empresas de média e grande dimensão". "Durante anos demais, o Município não quis saber da captação de investimento. O PS governa o município há 32 anos. O Dr. Domingos Bragança que governa há 9 anos. O Município tem instrumentos ao seu dispor que são decisivos para alavancar o desenvolvimento económico, com um ambiente favorável à instalação aos grandes projectos nacionais e internacionais", concluiu Bruno Fernandes.

Texto publicado na edição de 16 de Março de 2022 do jornal O Comércio de Guimarães


Marcações: reunião de câmara, captação de investimento, revisão de PDM

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