O Desporto como desígnio nacional. Ou talvez não.

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Por alturas das Eleições Legislativas, mesmo com pouco intervalo das últimas!!! somos tentados a acompanhar os principais temas em discussão,

através de entrevistas, debates ou pelos programas eleitorais. Estes, pouco ou nada lidos por estes tempos, em o que conta são os 15 segundos do TikTok ou os 280 caracteres dos tweets.

Nas atuais funções como presidente da Federação de Andebol de Portugal, permitam-me que fale do Desporto e da importância que está a ser dada por estes dias: pouca ou nenhuma. Admitamos que os temas que mais aparecem são em função dos interesses dos cidadãos, ou dos jornalistas, e que por estes dias são a Saúde ou a Habitação (falo de temas centrais para a vida das pessoas). Mas tinha de haver mais…

Convido os leitores a acompanharem um pequeno exercício de reflexão através deste texto. Encontremos alguma atividade que seja implicada, ou tenha implicação – direta
ou indiretamente – em várias áreas da ação governativa.

Assim, peço que encontrem essa área da nossa vida coletiva, que tenha impacto nos Ministérios da Saúde, das Finanças, da Segurança Social e do Emprego, da Educação, da Economia, da Coesão Territorial, da Administração Interna e da Justiça, dos Negócios Estrangeiros, da Juventude e da Cultura.
Espero que estejamos de acordo que se há alguma atividade que tenha este impacto, ela mesmo deva ser considerada como um desígnio. Eu ajudo. O DESPORTO é essa área. E talvez não haja outra.

Quando há um impacto positivo na área da Saúde (física e mental), que se reflete no imediato, e mais ainda no futuro, com diminuições de custos no nosso Serviço Nacional de Saúde e com um aumento da qualidade de vida dos nossos cidadãos;
Quando esses custos têm um impacto com crescente significado nas Finanças Públicas, no dinheiro que é necessário para acudir a doenças evitáveis;
Quando prolongamos a nossa vida ativa, teremos melhores desempenhos nos números da Segurança Social e Emprego e na quantidade de baixas médicas evitáveis;

Quando apostamos através do Desporto em políticas de socialização, de integração de gerações estamos a contribuir para uma melhor sociedade, mais segura e mais integrada. Com essa integração estaremos a contribuir para a diminuição da ação das forças de segurança, da Administração Interna e da Justiça. Quando antecipamos, ganhamos;
Quando promovemos ações que levem os jovens a descobrir Portugal e países estrangeiros estamos a contribuir para os Ministérios da Juventude e a Cultura;
Quando milhares de atletas, treinadores, dirigentes, árbitros e familiares percorrem o país acompanhando os jogos dos filhos e netos, isso quer dizer Coesão Territorial e tem um impacto na Economia, que poucos querem contabilizar, para não corar, tal é a sua importância;

Quando fazemos história ao nível internacional, nos Jogos Olímpicos, Mundiais ou Europeus, é Portugal que lá está, e isso é importante e muito significativo para a projeção do país. Todos os dias deixamos marcas importantes no Desporto, para alavancagem dos nossos Negócios Estrangeiros.
Podia continuar a dar exemplos. O Desporto dá muito mais ao país, do que os Governos dão ao desporto. É também por isso que deveria ser assumido pelos partidos políticos nesta campanha eleitoral, como um desígnio nacional. Será preciso fazer um desenho?

Li com atenção os programas eleitorais dos principais partidos que irão a votos no próximo dia 18 de maio. Há leituras corretas de várias propostas partidárias desde logo na assunção da fraca (fraquíssima) atividade física e desportiva em Portugal em comparação com os países da União Europeia; uma visão e propostas em domínios como o financiamento do desporto; a questão das apostas desportivas; o papel dos dirigentes voluntários e a sua valorização; o papel do Desporto Escolar e a necessidade de alargar a atividade física e desportiva na escola; o alargamento do Desporto para todos; o papel das unidades de alto rendimento; as questões fiscais associadas ao desporto, entre outras.

Li e leio há anos os programas eleitorais, relendo depois da formação do Governo (de qualquer um). O problema está na diferença entre as posições tomadas nossa programas eleitorais e depois na capacidade de colocar em práticas essas mesmas boas intenções. E aí há sempre diferenças.
Só para dar um exemplo e que tem um impacto significativo nas atividades das Federações: o Contrato Programa do IPDJ com as Federações (uma parcela com significado no financiamento) para 2025, terá o mesmo valor de 2024 que, por sua vez, já tinha o mesmo de 2023, não olhando sequer ao aumento dos custos de organização e implementação que resultam da inflação e que no caso é muito superior à taxa de inflação oficial. São opções que passaram por governos de várias sensibilidades e cores políticas. A questão não é de intenções e de propostas, que na sua maioria vão no bom sentido. A questão mesmo é a da capacidade de concretização e de valorização do mérito desportivo.

Nem otimista, nem pessimista, continuo determinado e na expectativa de que o Desporto possa contribuir em toda a sua dimensão para uma sociedade melhor. Como dizia o anterior presidente do Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Constantino:
“O desporto é um bem público… que socialmente vale mais do que custa”.
Termino, agradecendo ao Comércio de Guimarães e ao seu diretor, Joaquim Fernandes, esta oportunidade para escrever num jornal que me diz muito e que tem uma equipa que continua a fazer história no jornalismo português. Prossigam.

Miguel Laranjeiro


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