Mobilidade: uma revolução em curso

Dando sequência à visão de futuro que formulei no início da colaboração neste espaço, esta semana viro a atenção para a área da mobilidade.

Este é um tema que tem estado no centro de vários debates e uma preocupação transversal à política de Cidades em todo o mundo. 

Importa, pois, centrar a questão nos princípios fundamentais sobre os quais pretendemos desenhar o futuro em matéria de mobilidade. O desenvolvimento sustentável e a emergência climática devem ser centrais nessa reflexão, e fazer-nos privilegiar os meios suaves de transporte, a opção pelo transporte coletivo em detrimento do individual e a qualificação do espaço público para o seu uso pedonal e ciclável, tudo isto numa estratégia holística, posicionando o território como parte de um todo regional, nacional e global. 

Os últimos anos foram transformadores, no que diz respeito ao transporte público coletivo de passageiros. A nova concessão, em Guimarães, garantiu uma maior abrangência territorial e um acréscimo muito significativo de oferta pública, chegando a todas as freguesias e incrementando em cerca de 40% o número de kms percorridos, numa oferta que será, em breve, complementada pelo Transporte a Pedido, satisfazendo situações pontuais ou de menor procura. 

Sabemos, também, que a interligação entre esta concessão e as concessões regionais e intermunicipais carecem ainda de acompanhamento e aperfeiçoamento constantes, sendo fundamental que se evolua nos passes integrados, nos sistemas de informação fiáveis e no cumprimento de horários nas diferentes linhas. Só assim continuaremos a reforçar a atratividade do transporte público, estimulando o abandono do transporte individual. 

Ainda no transporte público, o País está finalmente comprometido com o desenvolvimento da Alta Velocidade, na ferrovia. Este é um comboio que não podemos perder e, felizmente, no quadro do Plano de Recuperação e Resiliência, Guimarães viu financiado o projeto de ligação à futura estação, a implantar nas imediações de Braga. 

Esta é uma parte importante da referida revolução na mobilidade, mas é fulcral que toda a região possa ter voz no país para que, para além da ligação à alta velocidade já garantida, se possam projetar ligações por via dedicada aos concelhos de Braga, Famalicão e Barcelos, potenciando uma das regiões mais exportadoras do país e polo económico fundamental para Portugal. 

Tem de ser tão defensável para o país um investimento em novas estações de metro em Lisboa e Porto, como a ligação por via dedicada ao terceiro polo nacional, em termos de vitalidade empresarial. 

Outro caminho sem retorno, e no que diz respeito ao transporte individual, é o da apropriação dos meios suaves, quer no crescimento dos espaços pedonais, quer numa rede intermunicipal de vias cicláveis, não apenas para lazer, mas também para as deslocações diárias. Este é um caminho em que Guimarães, tal como outros concelhos, tem andado bem, mas a que importa agora dar coerência regional, estabelecendo ligações entre as redes concelhias. 

Havendo boas redes de transportes públicos coletivos de passageiros, vias cicláveis de qualidade e um alinhamento intermodal entre as diferentes estratégias, a chegada aos centros urbanos fica facilitada e o seu uso pedonal favorecido, dando uso à diversidade de parques e bolsas de estacionamento que existem no perímetro mais central da cidade. Tal como a mobilidade, esta é uma revolução que se quer suave, mas ao mesmo tempo imparável. 

Não posso terminar este artigo sem formular os votos de congratulação ao semanário “O Comércio de Guimarães” pelos seus 140 anos de vida. O jornalismo livre, independente, publicado e profissional é um garante da democracia cinquentenária que este ano celebramos. Que continuem a trilhar este caminho com sucesso, superando os desafios de uma sociedade cada vez mais imediatista e pouca preocupada com a qualidade das fontes de informação.

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