Tempo perdido

Após decorridos quase quinze anos sobre a apresentação de um estudo para o centro histórico de Guimarães, desenvolvido no gabinete de projetos vimaranense

Pitágoras, elaborado por encomenda do município, eis que agora, passado todo este tempo, se tornou conhecida a intenção do Presidente da Câmara de cortar o trânsito automóvel no centro histórico, nomeadamente Alameda Norte, Toural Nascente e rua de Santo António, indo ao encontro das linhas mestras de tal projeto.

O mesmo estudo, para além de cortar o trânsito automóvel nas referidas artérias, apontava ainda a construção de um parque de estacionamento subterrâneo no largo do Toural, que assim permitia aos vimaranenses e visitantes da cidade afluir ao centro e fruir de comodidades que os tempos atuais à realidade urbana impõem.

Previa também a transformação da Alameda Norte em amplos espaços para esplanadas que se prolongavam pelos jardins da Alameda adentro, retirando assim ao automóvel uma importante fatia do espaço público de que actualmente ainda vai sendo dono e senhor.

O filme de apresentação do plano, era também ele de qualidade excelente, bem elucidativo da grande transformação que a nossa linda cidade iria beneficiar. O espaço público preteria, claramente, o automóvel em favor das pessoas.
Depois de várias sessões públicas de apresentação do projeto, tomaram força algumas vozes dissonantes pronunciando-se contra a construção do parque de estacionamento subterrâneo do Toural argumentando, sobretudo, com o facto da eliminação das árvores da nossa praça maior, o Toural.

Curiosamente, algumas dessas vozes críticas viriam mais tarde a beneficiar da adjudicação do projeto do arranjo deste espaço da cidade não se coibindo não só de eliminar as referidas árvores, coisa que particularmente não me choca, como se atreveram mesmo a invadir o Jardim da Alameda cortando-a ao meio na sua confluência com o largo República do Brasil - Campo da Feira - não se preocupando agora com o derrube de árvores centenárias e criando aquela aberração de trânsito automóvel que obriga, nos períodos de ponta, ter dois ou três agentes da polícia municipal a regular o trânsito de modo a ele poder fluir.

Uns anos mais tarde, um grande vimaranense, inteligente de espírito lúcido e bem arejado, André Coelho Lima, viria a adaptar esse mesmo projeto e a propô-lo aos vimaranenses nas eleições autárquicas de 2017 que acabou por não ter merecido acolhimento. Guimarães e os vimaranenses ficaram a perder.

O actual parque de estacionamento da Caldeiroa, não tendo sido a melhor solução, veio, no entanto, a esbater o grande problema do estacionamento no centro da cidade.

É já mais do que tempo de Guimarães recuperar o tempo perdido e alocar o espaço público do centro da cidade às pessoas, verdadeiro fundamento do espaço que é de todos nós.

Quem visita cidades com centros históricos, alguns bem menos valiosos do que o nosso, mas cujos responsáveis autárquicos tiveram o cuidado de os tonificar, eliminando a presença perniciosa do automóvel e das suas consequências físicas e ambientais – gases e ruídos - fica maravilhado ao poder sentir a vivência rica e abundante desses espaços que nos transportam ao presente a nossa rica história e o nosso passado.

Sente-se a riqueza da vida com a abundante presença de pessoas nas renovadas artérias, tal como a exuberante vida que transborda das linhas de água para a natureza.

Oxalá que desta vez seja mesmo para valer e que as poucas vozes discordantes de agora que não o serão, estou certo, no futuro, não constituam entraves para esta corajosa decisão.

Guimarães, 18 de Outubro de 2022
António Monteiro de Castro

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