VÍDEO: Efeito camaleão: Escola Virgínia Moura, uma escola adaptada ao mundo

Com um agrupamento adaptado para acolher alunos com origem além fronteiras da União Europeia, as famílias emigrantes de Moreira de Cónegos que vivem focadas no trabalho sabem que há quatro paredes que sabem e podem receber os seus filhos. Uma paleta cheia de ocupações que lhes estruturam a vida e a educação, onde estão a ganhar capacidades de dia para dia.

O Agrupamento de Escolas Virgínia Moura está a desenvolver o projecto «O Mundo à Nossa Porta», entre Janeiro de 2020 e Dezembro de 2021, financiado pelo Fundo para o Asilo, a Migração e a Integração (FAMI) em cerca de 120 mil euros. Trata-se de um instrumento financeiro que visa promover a gestão eficaz dos fluxos migratórios e a implementação, fortalecimento e desenvolvimento de uma abordagem comum na União Europeia relativamente ao asilo, à imigração e à integração. O público-alvo são nacionais de países terceiros que residem legalmente no território nacional.

Nesse sentido, a nossa equipa de reportagem mal entrou nas portas da Escola Básica Virgínia Moura deparou-se com um bem-vindo em português, inglês, francês, espanhol, nepalês e bangui. E não foi por acaso, pois nesta escola frequentam cerca de 30 alunos, do pré-escolar ao 8º ano, de nacionalidades tão diversas como Nepal e Bangladesh, ou ainda Brasil, Cabo Verde e Angola. 

É assim também por toda aquela unidade escolar. De resto, esta é uma das várias formas que a escola encontrou para ajudar a integração destes alunos. "Há dísticos, documentos e um site na língua deles. Há um computador para cada um deles para dar uma ajuda se precisarem de tradução. Tentamos ser um exemplo, mas sendo exemplo ou não, o objectivo é que as crianças se sintam bem e inclusivas, bem como os nossos alunos sejam inclusivos para receber os outros", explica a diretora do Agrupamento de Escolas Virgínia Moura, Maria de Jesus Carvalho.

Uma transição para uma nova realidade atenuada com a ajuda da Junta de Freguesia de Moreira de Cónegos, bem como pelo projecto Raízes, segundo a directora. "A vila tem um dos papéis mais importantes, porque é a primeira a receber. Nós estamos na segunda linha. Há um projecto muito interessante chamado Raízes, onde a Junta faz todo o acolhimento dos emigrantes, tratando de toda a logística. Estamos todos de parabéns porque se a primeira linha funciona a segunda fica mais fácil. O povo de Moreira de Cónegos é muito pró-activo. Mal chegam os imigrantes perguntam se têm roupa, comida ou casa. Depois disponibiliza todo o tipo de equipamento para que a família se sinta bem. Inicialmente vêm sozinhos para cá trabalhar e só depois trazem os filhos. Agora já trazem os avós das crianças, ou seja, eles sentem estabilidade", conta.

Com todos os esforços para diminuir a dificuldade de integração destes alunos, Maria de Jesus Carvalho acrescenta que a maior dificuldade se prende com a alimentação. "Depois de chegarem à escola tentamos perceber as necessidades e deparamo-nos com a maior dificuldade que está ligada com a alimentação. A comida deles é muito diferente da nossa", aponta. 

Quanto ao resto, segundo a directora da escola, a tarefa para estes alunos fica um pouco mais facilitada, pois estamos perante uma escola bilíngue, onde quase todos os professores e cerca de 70% dos alunos falam inglês. "Os nossos alunos também falam bem inglês e fazem Erasmus. Tudo isso ajuda. Quanto ao corpo docente, nós não temos verbas para contratar professores só para eles e temos de utilizar os nossos. Por isso, fizemos uma candidatura a um projecto, imaginando que íamos conseguir, pois só existiam nove no País. Este projecto deu-nos bastante gozo a fazer e foi também bastante trabalhoso. Não conseguimos fazer tudo que desejávamos porque veio no ano de pandemia, mas foi uma ajuda enorme. Agora queremos fazer uma visita de estudo a Guimarães, com pais e filhos, mas a pandemia também dificulta este trabalho. Ou seja, queremos mostrar Guimarães e mostrar as escolas aos pais, porque muitos deles nunca viram uma sala de aula", refere. 

Projecto de inclusão

À frente deste projecto encontra-se a coordenadora Rosária Carvalho. A professora destaca os vários projectos a decorrer em prol da inclusão. "Temos uma rádio que foi financiada em parte por este fundo, que permite divulgar aspectos culturais destes países. Queremos que eles se sintam integrados, mas também enriquecer a nossa comunidade escolar. Temos ainda outras actividades no âmbito desse projecto que está ligada à partilha de sabores, a aquisição de livros ou jogos bilíngues, que servem para que de certa forma se sintam integrados. Queremos que sintam que fazem parte. Acredito que são crianças bem integradas na escola", sublinhou a coordenadora, que também enaltece o facto dos alunos da Virgínia Moura estarem "habituados" a outras culturas. "Os nossos alunos já foram para vários países em Erasmus e recebem outros em igual processo, por isso estão de certa forma habituados a esta diversidade cultural. Isto é uma ajuda até eles obterem competências de português", adianta.

Rosária Carvalho explica ainda que os alunos estrangeiros frequentam as aulas com os alunos portugueses, com excepção do português língua não materna que exige um professor específico. "A ideia que tenho das minhas aulas é que eles compreendem de forma geral a mensagem. Pode haver disciplinas mais difíceis, mas o feedback dos professores é positivo", frisa a coordenadora.    

Sonhos de menino

Jogadores de futebol, artistas plásticos, escritores ou dançarinos. São os sonhos que os pequenos alunos nepaleses e bangladeses apontam para o seu futuro. Para que isso seja uma realidade contam com a ajuda deste Agrupamento, dos seus professores e alunos. Quem vê a cara de felicidade com que correm nos corredores da escola ninguém diria que alguns deles estavam há poucos meses a milhares de quilómetros de distância. Para além da evidente barreira da língua que todos apontam como maior dificuldade, embora alguns deles já dominem um pouco do português, todos eles se sentem integrados e agradecidos pelo esforço daqueles que ajudam nessa batalha diária. Na conversa com o jornal O Comércio de Guimarães, a vergonha venceu as palavras destes pequenos que falaram mais dos seus sonhos do que das dificuldades que querem deixar para trás.

Marcações: Agrupamento de Escolas Virgínia Moura, O Mundo à Nossa Porta, Fundo para o Asilo, a Migração e a Integração

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