Bernardino Névoa: "Percurso do São Cristóvão justifica-se com muito trabalho e alguma ponta de sorte"



Com nove vitórias em nove jogos, o Grupo Desportivo São Cristóvão lidera isolado a série C da 1.ª Divisão da Associação de Futebol de Braga. É o único clube vimaranense com um registo 100 por cento vitorioso. Um trajecto que revela o crescimento de um plantel que sofreu uma reformulação profunda no defeso, como assinala o treinador Bernardino Névoa.

Consegue encontrar explicação para o percurso deste “super” São Cristóvão? O clube só soma vitórias no campeonato.: "Acho que se explica como toda a gente poderia explicar: muito trabalho e alguma ponta de sorte que é preciso, como em tudo na vida. Mas essa sorte procura-se e nós fomos atrás dela. Até se calhar já nem diria sorte, mas sim mérito de procurarmos a mesma."

Estava à espera deste começo tão positivo na sua primeira temporada como técnico do São Cristóvão?: "Eu já disse isto algumas vezes, ficava-me bem agora dizer que sim. Nós trabalhamos sempre para ganhar, andamos no futebol para ganhar. Mas são nove jogos e nove vitórias, é algo onde penso que ninguém havia conseguido nesta divisão. Não esperava, mas, à medida que vais somando uma e outra vitória, já estás à espera de ganhares o terceiro, porque queres sempre ganhar o próximo. Portanto, este registo acabou por ir acontecendo de forma natural porque, desde que entramos aqui, o jogo mais importante é sempre o próximo."

Pode-se dizer que o Bernardino passou quase do inferno para o céu, visto que o seu percurso na época transacta no Torcatense não foi o melhor.: "Acaba por ser o futebol, um mundo que nos dá uma coisa e nos tira outra. Como tenho a certeza que, no ano passado, não era o pior treinador, este ano não sou o melhor. São contextos diferentes, com argumentos distintos e, se calhar, o tempo vai acabar por me dar razão. Eu estive oito meses parado e acabou por servir para muita coisa, uma reflexão pessoal para perceber aquilo que quero. Eu sabia que o projecto no Torcatense era arriscado e este acaba por ser diferente, até porque me disseram que eu seria uma peça importante. As coisas estão a correr bem, mas nunca sabemos o dia de amanhã."

Nesses oito meses de paragem, chegou a duvidar das suas capacidades como treinador?: "Para ser muito sincero e para não estar aqui com floreados, claro que tive. É muito duro, quando estás sempre a perder colocas tudo em causa. É difícil perder, semana após semana… aquilo que eu passei o ano passado em termos mentais e psicológicos não desejo nem ao meu pior inimigo. Fui muito chicoteado e escrutinado, mentalmente fiquei muito afectado. Como já referi, os oito meses de paragem foram muito benéficos para fazer uma auto-reflexão e voltar a ganhar confiança no meu trabalho. Este grupo de jogadores também teve um papel importante. Passou-me mesmo pela cabeça deixar o mundo do futebol. Mas, felizmente, este ano encontrei um grupo de jogadores que me voltou a dar gosto pelo treino e jogo. É como em tudo na vida, o futebol são fases e temos de aproveitar os bons momentos e repensar nos maus. Mas, como na época passada, espero não voltar a repetir."

O Bernardino acaba por ser a prova viva que existem segundas oportunidades no futebol.: "Sim. O facto de ter descido duas divisões acabou por criar muitas perguntas, com gente a perguntar “porque é que te não mantiveste na divisão onde estavas?”. Eu fui para onde me queriam e para onde acreditavam em mim. Tínhamos a meta bem definida e é nela que estamos agarrados. As oportunidades estão para quem as procura e para quem se prepara para elas. E cá estou eu, a trilhar o meu caminho e a tentar fazer o melhor pelo São Cristóvão."

Até onde a sua equipa pode chegar? O São Cristóvão parece um clube à parte nesta divisão.: "O importante é o clube ser, neste momento, muito respeitado pelos adversários. E eu vou vendo isso pelas abordagens que os clubes têm nos jogos contra nós: sempre mais na expectativa e à procura do nosso erro, jogando em transições e contra-ataques. Queríamos que o estigma do Futebol Popular no São Cristóvão fosse deixado para trás. Mesmo no nosso dia a dia, temos de continuar a dar o salto, seja em termos de estrutura ou da forma de olharmos para o futebol. Onde podemos chegar? Não querendo ser demasiado humilde ou arrogante, temos é de olhar para o próximo jogo, porque se o vencermos são dez vitórias seguidas e acaba por atingir o primeiro grande objectivo da época. O que cria ansiedade é olharmos para o que vai acontecer em Maio e não podemos estar a querer acelerar as coisas, porque teremos problemas."

Acima de tudo, o São Cristóvão é já um clube de respeito nesta 1ª Divisão.: "Era o nosso grande objectivo. Os resultados estão a ajudar, até porque poderíamos ter um discurso muito bonito, mas, se os resultados não aparecessem, o respeito não aparecia. Não nos podemos esquecer que, nesta divisão, temos quatro equipas que estavam uma divisão acima. E isso, para nós conta muito, porque há sempre a questão de acharem que a nossa série é mais fácil e isso justifica os resultados. Estarmos a conseguir igualar e superar equipas históricas nos distritais de Braga, já é um marco histórico para o clube."


Marcações: GD São Cristóvão, Bernardino Névoa

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