Guimarães atrai cada vez mais imigrantes apesar do custo da habitação

Há imigrantes de 101 nacionalidades a residir em Guimarães, atraídos pela segurança e por um leque de oportunidades que se afiguram no país que é considerado uma porta para a Europa e que procuram melhores condições de vida do que aquelas que teriam nos países de origem.

Trabalham na restauração, hotelaria, nos serviços, na indústria e na agricultura, procurando o seu lugar ao sol no mundo em que a igualdade de oportunidades difere muitas vezes da geografia e do sistema político em vigor no território em que se nasce.

A hospitalidade de Guimarães tem convidado muitas pessoas a fixar residência, estando a aumentar o número de imigrantes que chegam interessados na obtenção de um contrato de trabalho que permita a sua instalação e integração na comunidade, cumprindo todos os procedimentos legais. É a constatação assumida pela assistente social da União de Freguesias de Oliveira, São Paio e São Sebastião, com base no acompanhamento de proximidade que a Autarquia proporciona àqueles que procuram os serviços para a emissão do atestado de residência. Desde o início do ano, cerca de 350 pessoas residentes na área das três freguesias solicitaram o documento, destacando-se os pedidos formalizados por cidadãos de nacionalidade brasileira (199), ou seja, mais de metade do total. Esta tendência dá seguimento à realidade já identificada em 2022, em que foram emitidos na secretaria daquela União de Freguesias 1439, dos quais 792 correspondem a pedidos de cidadãos estrangeiros de 53 nacionalidades diferentes, sendo 476 atestados emitidos a pessoas oriundas do Brasil.
Apesar das dificuldades decorrentes dos baixos salários praticados em diferentes sectores de actividade, do aumento do custo de vida e do elevado montante necessário para pagar a renda de uma habitação, a assistente social aponta que "a segurança e a tranquilidade" como sendo o principal incentivo que atrai "jovens casais com ou sem filhos".
Para quem chega com a ideia de fixar residência e encontrar uma actividade profissional torna-se obrigatória a deslocação ao serviço da União de Freguesias da Cidade, entidade que tem a competência para emitir o atestado de residência necessário para regularizarem a permanência junto do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e terem acesso a outros serviços como a abertura de uma conta bancária, a inscrição no Serviço de Finanças ou no Centro de Saúde. "Sentimos que as pessoas chegam sempre algo desorientadas. Não é a regra, porque alguns têm aqui algum apoio de familiares e amigos! Mas, alguns, precisam de um acompanhamento próximo, de muita atenção, porque somos muito rigorosos na emissão do atestado de residência, com uma verificação minuciosa do contrato de arrendamento que nos permite aferir as dificuldades que muitos deverão sentir para pagar rendas tão elevadas em função do rendimento que poderão auferir", comenta Margarida Sousa, ao dar conta que o custo da habitação ronda nesta zona da cidade uma média de 600/mês, no caso de um T1, mobilado, obrigando os contratos a cauções de três e quatro rendas de adiantamento. "É um problema para os imigrantes, mas também para os vimaranenses que querem arrendar uma casa e têm que suportar preços muito elevados ou procurar alternativas na periferia", observa, ao precisar que desde o início do ano têm procurado os serviços muitos cidadãos oriundos da América Latina, com destaque para o Brasil, mas também da Colômbia, Honduras e Porto Rico.
"Eles chegam à procura de melhores condições de vida, numa cidade tranquila, que proporciona oportunidades de emprego e habitação. Como? Se calhar as soluções não são as mais adequadas, mas percebe-se que demonstram uma enorme vontade de fixarem residência, integrarem-se na comunidade e poderem ver os filhos a crescer e a frequentar a escola", salientou a técnica, ao realçar que também há casos de empresários que decidem fixar residência e efectuar investimentos no Concelho "com expectativas diferentes".
A assistente social não tem dúvidas que o acesso à habitação é a maior adversidade que enfrentam. "Há situações em que os contratos de arrendamento não são renovados porque as condições são muito exigentes. Sabemos ainda da existência de situações em que há subarrendamentos que não estão contemplados nos contratos e que invalidam a permanência das pessoas. Alguns partem para outros países, outros procuram encontrar residências mais acessíveis nas freguesias da periferia", considera, insistindo que a proximidade mantida com quem procura Guimarães tem associado "o rigor e a exigência" na verificação dos contratos dos documentos pessoais e uma disponibilidade para o acompanhamento, integração e inclusão na comunidade vimaranense.

Moreira de Cónegos
criou projeto de integração

Em Moreira de Cónegos, a Junta de Freguesia tem proporcionado uma orientação diferenciada da comunidade migrante que tem crescido naquela localidade, com presença de pessoas oriundas do Nepal, do Bangladesh e da Índia. Há 142 cidadãos e 37 famílias que estão a ser acompanhados através do projeto Raízes.
O autarca António Brás realça a capacidade de adaptação, dado que a comunidade começou por estar ligada às actividades profissionais relacionadas com a agricultura, mas que agora já exercem funções em diversas empresas. "As pessoas sentem-se seguras, gostam de viver aqui e já são moreirenses", considerou, reconhecendo que o acesso a habitação a preços acessíveis é um grande entrave à fixação de pessoas imigrantes e até aos naturais de Moreira de Cónegos.

CLAIM estimula integração

De acordo com os dados divulgados recentemente pelo Centro Local de Apoio à Integração de Migrantes (CLAIM), com base em informações do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, a representatividade da população migrante em Guimarães, com autorização de residência, é de 2 mil 686 pessoas, existindo um equilíbrio entre a presença de homens (1321) e mulheres (1365). Há a considerar os imigrantes, mas também estrangeiros com o estatuto de refugiado.
As nacionalidades com maior incidência são: Brasil, Ucrânia, Angola, Colômbia, Guiné Bissau, Cabo Verde, Bangladesh e Nepal.
O CLAIM de Guimarães iniciou a actividade em Maio de 2010, com instalações na Divisão de Acção Social da Câmara, com o patrocínio do Alto Comissariado para as Migrações. Pretende criar pontes culturais e linguísticas com todos e a missão de ir além da informação, apoiando em todo o processo de acolhimento e integração de migrantes, articulando com as estruturas locais e promovendo a interculturalidade.

Texto publicado na edição do jornal O Comércio de Guimarães, de 21 de junho de 2023

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