As eleições nas democracias

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Sendo certo que os actos eleitorais constituem um momento importante e fundamental da vida das democracias, a sua frequente ocorrência

fora dos prazos constitucionalmente previstos poderá significar, tal como a elevada temperatura nas pessoas, a presença de alguma doença a afectar essas mesmas democracias.

São imensos os exemplos a comprová-lo. A Itália dos finais do século XX constituiu, pela constante instabilidade governativa que a afligiu, um exemplo de democracia doente que apenas sobreviveu graças à qualidade da sua administração pública que conseguiu fazer funcionar o país mesmo sem governo, mas que acabaria por ver o seu Primeiro-Ministro, Aldo Moro, assassinado pelas Brigadas Vermelhas em 1978 e os seus partidos tradicionais – Democracia Cristã, Partido Comunista de Enrico Berlinguer e Partido Socialista de Bettino Craxi - progressivamente desmantelados e substituídos por partidos regionalistas e populistas.

Poder-se-á dizer, no nosso caso, que na raiz do problema estará, não apenas a necessidade urgente da reforma do sistema eleitoral, como também a incompetência geral e, sobretudo, a ambição desmesurada de gente impreparada que não compreende a responsabilidade política como um serviço à comunidade que lhe confia sua parcela de cidadania.

Gente que, nesse espírito de conquista do poder se manifesta, sistematicamente, contra tudo aquilo que lhe possa estorvar, mesmo que seja o que melhor serve o interesse dos seus concidadãos, impedindo, por todos os meios ao seu alcance, outros de governar, acabando por arrastar o país para sucessivos actos eleitorais.

Gente que emerge das “universidades das juventudes partidárias”, onde se especializa na consumação de golpes e na técnica da conquista de lugares nas listas do aparelho do Estado, com pouca ou nenhuma ligação à vida real, afugentando gente competente e com provas dadas, seja na vida profissional, académica ou empresarial.

Entre nós, assistimos ao impedimento de governar a Pedro Passos Coelho, vencedor sem maioria absoluta das eleições legislativas de 4 de outubro de 2015, com a coligação "PaF – Portugal à Frente" (PSD e CDS-PP), ao ver reprovado o seu programa do governo no dia 10 de novembro desse ano, com uma moção de rejeição da coligação negativa PS, PCP e B.E. encabeçada por António Costa, um dos grandes responsáveis pela situação actual ao inaugurar uma nova era de governo chefiado por partidos derrotados.

Assistimos à queda do governo de António Costa em novembro de 2021, saído das eleições de 6 de outubro de 2019, após a rejeição do orçamento de Estado para 2022 provocando novas eleições a 30 janeiro 2022.

Em novembro de 2023 caía novamente o governo de António Costa, na sequência de alegados casos de corrupção provocando eleições antecipadas a 10/03/2024 vencidas pela coligação PSD/CDS, cujo governo viria a cair em 11/03/2025 após rejeição de moção de confiança.

Agora, a 18 de Maio de 2025, voltamos a ter novamente eleições legislativas de onde, sem grande surpresa, vence sem maioria absoluta parlamentar a coligação PSD/CDS e se assiste à derrocada do Partido Socialista, à redução significativa dos partidos de esquerda PCP e BE, assim como ao reforço do partido “Chega” que aglutina os muitos portugueses descontentes e frustrados com as condições de vida do presente e com a falta de esperança no futuro.

Ao nível local sobressai, desde logo, a vitória da AD ao ver reforçada a sua votação de 31.236 das eleições de 2024 para 34.399, mais 3.163, e a queda do PS que cai de 33.789 votos nas eleições de 2024 para 27.547 perdendo 6.242 votos, abrindo assim expectativas para as próximas autárquicas que se aproximam. Acresce ainda o facto, e de forma inédita, ter a AD vencido nas 37 freguesias das actuais 48 do concelho.

A terminar, e até porque tudo terá sido já dito acerca destas eleições, deseja-se que as principais forças políticas com representação parlamentar se debrucem, com responsabilidade, a encontrar a forma e os meios que permitam transformar este nosso querido país numa terra de justiça e paz com a resolução dos problemas que mais preocupam as famílias: habitação, saúde educação, não ignorando, naturalmente, a preocupante envolvente internacional do momento.

Guimarães, 27 de Maio de 2025
António Monteiro de Castro

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