Desculpem lá!

Sim, desculpem lá, mas este folhetim do Avepark já tem episódios a mais. E curiosamente ninguém se atribui progenitor do emplastro. Não o de o ser em si,

que e como tal até merece o respeitoso reconhecimento da sua existência (ou a validação dalgumas concretizações aí ocorridas ou ditas a acontecerem), mas nos permanentes imponderáveis em que se tem vindo a ver envolvido e que, no entanto, desde o início eram perfeitamente previsíveis. E a maior parte deles, senão mesmo todos, decorrentes da sua localização.

É tempo, portanto, de se averiguar da sua paternidade e sobretudo das razões que presidiram à escolha daquele lugar para o seu parto, pois e como se vai vendo, por isto e por aquilo, continuamente transparece que não era o sítio mais indicado; podendo até insinuar-se que é manifestamente inapropriado. E daí os anunciados e custosos remedeios, com eventuais contras, que vão sendo apresentados e não, também e como desejavelmente competiria, prontamente corrigidos. E concomitantemente, sempre, por meio de o recurso a avultados dispêndios de fundos públicos. Isto num País pobre e sempre muito carente deles. E em que os planos directores municipais estão estatuídos desde 1982.
Por cima de tudo o acima escrito não se pode obliterar o refrão já por diversas vezes adiantado de que “o que nasce torto, tarde ou nunca se endireita”.

Assim o porquê naquele local é uma pergunta que deve ser feita. Isto quando, por exemplo e com possíveis outras situações, se abriu mão para a iniciativa privada de toda uma área de Silvares. Essa sim à boca das auto-estradas (das ligações rodoviárias com a Europa - via Chaves/Verin -, com a área metropolitana do Porto, com Leixões, com o Sá Carneiro e com a ferrovia de carga). Acrescendo ainda o ser esse espaço um subúrbio de fácil acesso colectivo e individual em que, ainda e por cima, todas as infraestruturas urbanas existentes (em que, claro, se incluem as de ensino superior) estariam à mão e que, noutra perspectiva, teria potenciado o imprescindível crescimento e desenvolvimento da nossa cidade.
Mas adiante, como sói ultimamente escrever-se a miúdo, que aqui o gado é mesmo mosqueiro.

Em qualquer caso e também mais uma vez, numa comum incompreensão, o do projecto da inicial confluência das auto-estradas. Como já várias vezes tem sido referido e para essa aludida zona de Silvares, estava previsto um nó rodoviário como deve ser (com um bem dimensionado trevo que faria a distribuição do trânsito das A 7, A 11, ENs 206 e 310, ligação à cidade e, previsivelmente, a uma futura circular urbana externa). Projecto esse que, inclusivamente e tendo dado os primeiros passos para as expropriações, subitamente, foi interrompido e restringido à anedótica solução que acabou por ser implantada; sem, nunca, se ter explicado publicamente a conveniência da alteração ocorrida. A verdadeira razão dessa menor e insatisfatória opção. Tanto mais que, sem que se possa estabelecer uma relação que pode ter existido, por a mesma altura surgiu na A 7 a porta de Serzedelo. Porta que parecia, e parece, carecer de uma lógica viária que a imponha e que não seja apenas a da circunstância da VIM.

Já agora uma VIM cuja efectivação, do mesmo modo e para os interesses da cidade, e do município, não se consegue apreender. O desviar, e para tão longe, a mobilidade rodoviária do centro urbano não se apresenta como uma solução que defenda um querido, e não crido, progresso e desenvolvimento de Guimarães. É certo que é necessária uma circular urbana externa, mas e mesmo para um crescimento da cidade para os tais 100.000 habitantes, o acercamento das auto-estradas como limite poente seria consentâneo duma realização que abarcasse um futuro de várias dezenas de anos (isto a manter-se um indesejável e improvável aumento da densidade de tráfego). Aliás, a pressa que foi a da construção da VIM não se coaduna com a da ausência do fecho da circular urbana pelo lado nascente. Numa, portanto, presumida evidência de que, também aqui, não se acautelou o interesse local e se contribuiu para a descentralização (interiorização) do centro urbano do concelho, visto que grande parte do transito norte/sul foi desviado quase para a raia ocidental do seu território.
Enfim, decisões, qualquer delas e como deve ter sucedido, amplamente arejadas na praça pública e discutidas afanosamente no areópago municipal. Ou não?

Voltando ao Avepark (nominativo submisso duma colonização linguística anglo-saxónica que corresponde a uma menorização patrimonial inconcebível e que está bem reflectida no pífio Allgarve), este podia e devia, e deve, ser de fundamental importância para o futuro concelhio; um sonho acalentador de uma contemporaneidade susceptível de impulsionar uma potenciada alteração qualitativa em várias áreas do seu quotidiano vivencial ... e não só. E sem se estar a pensar numa Silicon Valley (há que respeitar as abissais diferenças), numa região de forte incidência produtiva secundária, o investir e trabalhar no conhecimento puro e aplicado é sempre uma mais valia essencial para se assegurar um devir melhor. E ainda o é mais fundamental pela relativa marginalidade espacial (e não apenas nessa vertente física) em relação ao País e, quase total, em relação ao mundo pós industrial desenvolvido que lhe está fora.

Assim e dando-se todo o apoio ao nosso Parque de Ciência e Tecnologia, que deveria ser o menino de ouro das intenções e da atenção, ainda que sem descurar tudo o resto que deve ser prosseguido para uma crescente qualidade de vida, o que se deve saber é como se vai atingir essa necessidade. Objectivamente, isto é, sem subterfúgios e promessas, até porque e ao longo dos anos que já leva, ao que se tem assistido é que a sua atractividade não parece funcionar como devia e se quereria.
Sem, no entanto, se descurar a imputação da sua fraca operacionalidade presente e dos elevadíssimos custos da tentativa da sua superação (se é que ela é superável?).
É que a responsabilidade não pode morrer sempre solteira. E já é tempo de se começar a perceber isso, pois o varrer para baixo do tapete só e apenas esconde o lixo.

Fundevila, 22 de Janeiro de 2023


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