Ânsia do Poder

Tendo eu nascido nos primeiros anos da década de 50 do século passado, ainda Portugal e sobretudo a Europa se recompunham das consequências desastrosas da segunda Grande Guerra Mundial e vivendo num país sob regime autoritário, pouca ou nenhuma foi a minha vivência política. Só a partir de 1970, ano em que dei entrada na universidade, a qual vivia a reforma Veiga Simão surgida como resposta à crise académica no seguimento dos movimentos do Maio de 68 em Paris, tomei contacto e consciência do que era a falta de liberdade e de algumas das suas principais consequências.
Uns anos depois, antes da revolução e sobretudo depois de Abril de 74 vivi, tal como a grande maioria dos portugueses, com grande emoção e intensidade esse importante momento histórico do nosso país sentindo-me chamado à participação na construção do Portugal novo, do Portugal democrático, do Portugal dos três D – da Democracia, do Desenvolvimento e da Descolonização. Foi por essa altura que passei a conhecer, com mais proximidade, aquilo a que se chama política.
Até aí, e para mim, que desde muito jovem me senti atraído pela máxima contida no segundo maior mandamento da Lei de Deus – “amar o próximo como a nós mesmos” – a política não seria muito mais do que o trabalho desinteressado na promoção do bem comum, no apoio aos que mais necessitam, razão pela qual sempre admirei os políticos por renunciarem à realização dos seus interesses colocando toda a energia ao serviço dos seus concidadãos.
Se na altura era essa a conceção que eu tinha da política, na verdade, mais tarde, ela viria a demonstrar-me ser muito mais do que isso. De facto, há quem a defina como “a arte para tornar possível o que é necessário”, ou “a arte de governar os povos” ou ainda, “a atividade humana do tipo competitivo que tem por objeto a conquista e o exercício do poder”.
É verdade que sem o poder, que se pode definir como sendo “a faculdade de mandar e de se fazer obedecer”, não se torna possível a concretização na plenitude de determinado projecto de sociedade, e que por isso se torna indispensável contemplar na acção política as diligências para o alcançar. Mas tal luta, num regime democrático, terá de respeitar regras e sobretudo ter bom senso.
Ora, aquilo que na política mais reservas me merece é, exactamente, a luta pelo poder, nomeadamente quando ela assume um carácter obsessivo, esquecendo que sendo importante quem governa, não menos importante é quem faz oposição e fiscaliza o poder.
Ora, aquilo que na política mais reservas me merece é, exactamente, a luta pelo poder, nomeadamente quando ela assume um carácter obsessivo, esquecendo que sendo importante quem governa, não menos importante é quem faz oposição e fiscaliza o poder.
Vem tudo isto a propósito da forma como o novo presidente do PSD, Rui Rio, tem desempenhado o seu papel de líder da oposição.
Na verdade, a seriedade das suas tomadas de posição relativamente a muitos dos temas em discussão mostram que é um homem sério, que diz o que pensa, independentemente de agradar ou ser contra a corrente geral de opinião, contrastando com quem é contra tudo o que venha dos outros partidos, nomeadamente do PS e da esquerda parlamentar, deixando transparecer claramente uma ânsia incontida de chegada ao poder.
Parecem esquecer que acima do interesse individual e do partido deverá estar sempre o interesse do país o qual deve constituir a matriz orientadora de toda acção dos políticos. É essa a atitude que os cidadãos exigem aos seus representantes e é essa a atitude que credibiliza a política.
Ainda há dias, quando se pronunciava sobre a ideia avançada pelo Bloco de Esquerda (uma tentativa, talvez, para fazer esquecer o episódio “Ricardo Robles”) acerca da necessidade de combate aos especuladores imobiliários, afirmando que “até não seria uma ideia de desprezar”, logo mereceu comentários jocosos por parte de quem manifesta claramente ignorar a forma como atualmente as mais valias resultantes das transações imobiliárias são tão injustamente tributadas em sede de IRS e como, com uma simples alteração da lei, se pode, simultaneamente, fazer justiça e penalizar os verdadeiros especuladores. Bastará para isso alterar a percentagem das mais valias das operações imobiliárias que se contabilizam para efeitos do cálculo do rendimento e que actualmente se fixam em 50%, num valor proporcional ao tempo decorrido entre o acto de compra e o acto de venda do bem imobiliário.
António Monteiro de Castro
Guimarães, 25 de Setembro 2018