«A doença de Parkinson pode manifestar-se muito antes do tremor», por Andrea Almeida, psicóloga e diretora técnica do CliHotel de Guimarães

Ordem dos Psicólogos Portugueses | Cédula nº: 013587

O Centro de Reabilitação de Guimarães, em parceria com o CliHotel de Guimarães, acolhe e cuida cada vez mais de pessoas com um quadro clínico compatível com as chamadas doenças do movimento e degenerativas, em especial a Doença de Parkinson. Andrea Almeida, psicóloga e diretora técnica, justifica o aumento de solicitações com o trabalho dos clínicos de medicina geral e familiar, que têm tido, diz, «uma missão muito relevante no diagnóstico dos doentes de Parkinson, já que muitas manifestações, menos evidentes que o tremor, são identificadas de forma precoce graças ao seu trabalho». 

Um diagnóstico de Doença de Parkinson assusta, mas esta é uma doença cada vez mais comum.  O que precisamos saber sobre esta doença neurológica?

Esta, de facto, já não é uma doença rara. É uma patologia neurológica frequente, sobretudo associada à idade. A maioria dos doentes tem mais de 55 anos. E a probabilidade de se desenvolver esta doença é proporcional ao avançar da idade. Com o envelhecimento da população, todos os estudos revelam que o número de pessoas a desenvolver a doença aumentará nas próximas décadas. Este é o momento para nos prepararmos para cuidar da melhor forma, não só destes doentes, como também dos seus cuidadores.  

Quem pode ter, nos próximos anos, especial relevo no diagnóstico destes doentes?

Terão, decerto, especial relevo os médicos de Medicina Geral e Familiar, que desempenham uma missão única no acompanhamento destes doentes. Estes clínicos têm tido uma missão muito relevante no diagnóstico dos doentes de Parkinson, já que muitas manifestações, menos evidentes que o tremor, são identificadas de forma precoce graças ao seu trabalho. A doença de Parkinson pode manifestar-se muito antes do tremor. 

Quais são essas manifestações?

A lentificação motora, as mudanças na escrita (a letra diminui de tamanho), tremores, assimetrias corporais, arrastar de uma perna ou o menor balancear de um braço são, regra geral, os sintomas de alerta a que estes clínicos estão atentos. Há, porém, outros sinais, menos evidentes, que, se conjugados, podem configurar manifestações da doença. É o caso da diminuição do olfato, da obstipação, de ações discursivas durante o sono, de sonhos agressivos, de comportamentos agressivos – que podem ocorrer muitos anos antes das manifestações mais evidentes e mais conhecidas. Nestes casos de dúvida, uma consulta de neurologia pode auxiliar no diagnóstico. 

Qual o impacto real deste tipo de doença na qualidade de vida do doente de Parkinson?

Cada caso é um caso. O tremor é a manifestação mais visível, mas pode não ser a mais incapacitante. Os fatores que mais contribuem para a perda de qualidade de vida destes doentes são: a alteração da marcha, as perdas cognitivas, as alterações de comportamento, da voz e da deglutição. Cada uma, por si ou em conjunto, concorrem para uma perda progressiva de autonomia, que representa uma sobrecarga para famílias e cuidadores. 

É a este nível que o Centro de Reabilitação de Guimarães, em parceria com o CliHotel de Guimarães, pode auxiliar?

Sem dúvida. Dispomos de todas as condições estruturais e humanas para acolher e cuidar deste tipo de doentes. A nossa equipa multidisciplinar têm feito um trabalho fantástico com um número crescente de residentes com doenças degenerativas. As linhas orientadoras clínicas atuais para a Doença de Parkinson reconhecem o papel da reabilitação como meio essencial para a melhoria da funcionalidade dos doentes e de os ajudar, assim como aos seus familiares, a lidar e a gerir da melhor forma possível os constrangimentos e as limitações funcionais subjacentes à doença.

O que é a doença de Parkinson?

A Doença de Parkinson é uma condição neurológica degenerativa e progressiva, que ocorre quando as células nervosas (neurónios) de uma zona do cérebro denominada por substância negra ficam comprometidas ou morrem. Estas células produzem uma substância química denominada por dopamina, que facilita a coordenação dos músculos corporais e do movimento. É, assim, uma perturbação cerebral cuja designação deriva do nome do médico inglês que a descreveu no século XIX. Estima-se que 20 mil portugueses sofram desta doença. Em média, em Portugal, são diagnosticados perto de 2000 casos/ano. 

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