“Os Limites do Crescimento”

(Club de Roma
D. & D. Meadows e Jorgen Randers)

Já lá vão cinquenta e anos que apareceram os “The Limits to Growth” e “The Entropy Law and the Economics Process”;

este último de Nicholas Georgescu-Roengen (matemático romeno que andou por Harvard e tempos depois, retornado, se fixou na Universidade de Vanderbilt, em Nashville, Tennessee, USA; discípulo de Joseph Schumpeter e Paul Samuelson, que o tinham em apreço e, de certa maneira e mais o primeiro, o introduziram na disciplina económica). Que, assim se o pode dizer com alguma propriedade, assomou definitivamente a bioeconomia como uma secção da economia crítica da noção neoclássica.


Noção neoclássica que perdura nestes dias que correm e em que, portanto, se persiste na necessidade de um crescimento constante, como se este fora a varinha de condão para o bem estar social. Mais um TINA de feérica e persistente mediatização; de suscitada ilusão que nos é servida como o fruto apetecido que todos devemos querer. Não é assim? Basta escutar os repetidos e noticiados aumentos do PNB, do bom caminho de mais umas centésimas anuais da sua progressão, ou, lamentando, os efeitos nocivos que baixam previsões ou o próprio PNB, para se perceber que o é. E não obstante essa prosseguida quimera, todos os dias também somos confrontados com o espectro das alterações climáticas que os dados nos vão fornecendo.

No acostumado desvio destas linhas, uma referência para, no dia da Terra (o 22 do passado mês), a abertura pelo jornal Público do local “azul”; numa alusão ao seu retrato fotográfico tirado do espaço e que continha reportagens sobre a crida, e progressiva, intrusão do Homem no presente ciclo do processo planetário. Embora elas, essas reportagens, tecessem e têm continuado a por aí enveredar, em uníssono, veladas críticas ao caminho que vem sendo seguido (desviando-se porém e sempre das causas originárias dessa incessante acrescida intromissão) e que, mais ou menos, admitem a esperança de revertê-las, ou pelo menos não as agravar mais, a verdade é que esse optimismo não tem a confirmação do que se vai comprovando. Pelo contrário o que se nos depara é a impossibilidade de concretização de metas que, fixadas, sistematicamente não são atingidas e a temperatura global (crida causa principal das ditas alterações) continua a aumentar muito mais que o desejável. Com consequências que não auguram nada de bom para o futuro da biosfera, o nosso incluído.

Mas este magno problema continua a ser marginalizado, tratado como secundário face a sensacionalismos, reais ou mediáticos, que distraem o ZÉ bordaliano das albardas do quotidiano, ou o enfocam nos lazeres a que se julga com direito e de que não quer prescindir. E no entanto ...
Eh! No entanto, essa distração para a premência do problema é de vital importância para a Terra e pode dizer respeito à viabilidade da espécie num horizonte já avistável a olho nu. Ou, num cenário mais benigno, sujeitar a humanidade a drásticas medidas de contenção para sobrevivência. Pessimismo. Talvez? Mas nesta roleta o bom seria não apostar tudo num número: o do crescimento. É que não é só a economia que se pode ir. Podemos ser nós, ou grande parte de nós. E sobretudo os mais frágeis que, por esse mundo fora, já vão subsistindo em condições infra-humanas, ou, aqui mais à porta, descem para o jazigo do Mediterrâneo.

Chegados a este ponto há ainda uma observação que convém adiantar, explicitar: a de que leis, princípios, doutrinas, teorias e quejandas elaborações mentais humanas são, sempre, de relatividade conjuntural; por muito científicas que se as pretendam. Porquê? Porque o reconhecimento humano do Cosmos é muitíssimo incompleto, imperfeito. E, portanto, como sói dizer-se, o que hoje é verdade amanhã pode não o ser bem. Por exemplo, admite-se agora que a água e o carbono tenham uma origem inicial extraterrestre, meteórica; ou seja, de corpos celestes provindos de colisões ocorridas no sistema solar e consoante a sua órbita mais perto ou longe da estrela, assim se teriam criado neles elementos dispares que, posteriormente e os mais exteriores, caíram sobre a Terra, que já teria os que, pela sua posição orbital, lhe cabiam, num amálgama que possibilitou o surgimento da biosfera. Ou aquele outro mais difícil de visualizar, o de conseguirmos imaginar o nosso corpo à escala das partículas elementares que, a todo ele, o constituem como a sua base primária e que vêm dos primórdios do mundo, numa sequencialidade consequente de continuidade contígua; não distinta aliás do que o envolve. Como estes muitos outros demonstram que o conhecimento humano (para um uno mecanismo que explique a existência e o reconhecimento preciso do processo universal dela ou de cada uma das suas pretensas singularidades) não é cabal, nem estático e que consoante avança, as induções e deduções (operações mentais) que sobre a totalidade dos dados vão sendo actualizadas, o vão remodelando ou aperfeiçoamento. E ele vai sendo mais fiável quanto mais dados objectivos sobre o respectivo processo vão sendo coligidos.

Dito isto, o no parágrafo anterior, debrucemo-nos então sobre as duas obras invocadas no primeiro, começando pela de Georgescu-Roengen. Defendia este a tese do decrescimento económico, por entender que o aumento permanente da produção não era compatível com a finitude da Terra, com os seus recursos não renováveis e, ou, o dispêndio dos que o fossem em quantidade superior à capacidade de reposição. Para tal aplicava ao desenvolvimento do sistema de produção capitalista a segunda lei da termodinâmica (a entropia), tentando demostrar que a lógica do prosseguimento do crescimento levaria a uma progressiva degradação, que acabaria por redondar na destruição da biosfera que ainda temos. Já o estudo dos Meadows e Randers, ecológico, constatava a finitude dos recursos e referenciava a poluição. Ambos, porém, defendiam e, ou, apontavam para que o planeta não podia suportar um crescimento contínuo da produção de bens, de consumos exageradamente dilapidadores.

Opinião que parece estar a generalizar-se, que principia a ganhar crescente audiência e a arregimentar multidões de activistas preocupados com o futuro, com a viabilidade terrestre a médio, senão já a curto, prazo.
Só os DDT’s e os acólitos, políticos ou não, continuam insensíveis e a assobiar para a lado; a não desistirem da defesa dos seus interesses seja a que preço for.
Realidade esta a, mais uma vez, fazer-nos rememorar a bíblica parábola dos cegos.

Fundevila, 4 de Maio de 2022


terça, 10 maio 2022 08:52 em Opinião

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